Notícia Semana InformáticaAs aplicações de código aberto sempre tiveram maior aceitação junto dos departamentos técnicos, mas agora começam a ter acolhimento positivo noutros departamentos


As crises são autênticas incubadoras de novos projectos. Servem para agudizar a capacidade de adaptação à mudança dos decisores e das organizações e, nesta matéria, o open source parece não ser uma excepção.

Segundo dados mais recentes da IDC (Julho de 2009), o investimento global em software de código aberto deve atingir, em 2013, 8,1 mil milhões de dólares (aproximadamente 5,7 mil milhões de euros), apresentando uma taxa média de crescimento anual de 22,4 por cento.

A analista de mercado refere que a taxa de crescimento está relacionada com as necessidades com que empresas e gestores de TI se depararam. Em muitos casos, o cenário de crise obrigou a conter ou a reduzir os orçamentos de TI de muitas organizações e uma das formas encontradas para minimizar os custos foi recorrer ao open source. Os próprios gigantes do sector, como IBM, Oracle, Sun, Dell e HP aumentaram as suas receitas apostando em serviços baseados em plataformas open source.

A Intel iniciou uma nova aventura com o desenvolvimento em parceria com a Novell de um novo sistema operativo para computadores portáteis. Dá pelo nome de Moblin e encontra-se ainda em fase de teste, mas a razão de ser deste sistema – para além de tirar partido das capacidades dos serviços existentes – é proporcionar uma arquitectura aberta para que os programadores possam desenvolver aplicações para este ambiente.

Na área dos telemóveis assistiu-se à introdução do Android, um novo sistema operativo desenvolvido pela Google para telemóveis e smartphones. Há ainda um universo de aplicações empresariais desenvolvidas com tecnologia Java/Java2EE, Java Script impulsionado pela Sun e pela Oracle.

As aplicações open source têm evoluído na robustez, qualidade e funcionalidades e os seus defensores advogam que a «adopção de aplicações baseadas em normas abertas garante a interoperabilidade das soluções e a independência de quem as escolhe». Aquilo a que se está a assistir no mercado é uma oferta melhorada da qualidade, robustez e funcionalidades, que não se limita ao Linux, ou sistemas operativos e aplicações de produtividade ofimáticas. Aquilo a que se assiste é a um aumento da aceitação destas soluções destinadas às empresas. Essas ofertas incluem plataformas Web, ferramentas de desenvolvimento e diversos produtos, como bases de dados, ERP, CRM, BPM, gestão documental, só para citar alguns exemplos.

Tradicionalmente, o software open source sempre teve um amplo núcleo de seguidores junto dos departamentos de TI, sobretudo em áreas relacionadas com o sistema operativo (gestão de rede, sistema de ficheiros, periféricos, etc.) e com aplicações de suporte (bases de dados, servidores Web, partilha de recursos, transporte de e-mail). Aquilo a que se está a assistir recentemente é à saída destes ambientes mais técnicos para aplicações de negócio, como os (ERP, CRM, gestão de conteúdos, gestão documental, BPM, entre outras).

Maior aceitação em Portugal
O Semana falou com algumas empresas nacionais para saber que sensibilidade possuem neste campo, contactando empresas que não possuem soluções open source, empresas que no seu portfolio detêm alguma solução deste género e companhias que trabalham maioritariamente com soluções open source.
Uma das empresas contactadas foi a Neeaconsulting, especializada em soluções Software as a Service (SaaS), cloud computing e soluções de comunicações unificadas, e que não trabalha com soluções open source. Carlos Tavares, managing partner da Neeaconsulting, realça que apesar de a empresa não oferecer neste momento soluções baseadas em tecnologias open source, segundo ele, «tem-se notado ultimamente uma abertura cada vez maior das empresas a filosofias alternativas no que toca à adopção de aplicações empresariais – nomeadamente no que respeita à adopção de aplicações em modelo SaaS». O managing parter da Neeaconsulting refere que um momento económico difícil como o que estamos a atravessar «obriga todas as empresas a reduzir custos em todas as áreas e no que toca ao IT, tanto as soluções SaaS e open source apresentam vantagens de custos muito significativas face às aplicações com modelos de negócio mais tradicionais».

Carlos Tavares considera que o open source tem vindo a assumir um maior protagonismo, pois resulta do actual panorama mundial de colaboração e partilha baseado na Internet. Para ele, as empresas e as organizações já perceberam que «o ambiente de computação em rede (cloud computing) é o próximo passo na evolução tecnológica das soluções e aplicações empresariais (e pessoais) e por este motivo vão integrando cada vez mais nas suas prioridades soluções que estejam directamente relacionadas com esta envolvente». Por este motivo, o responsável da Neeaconsulting entende que os profissionais de IT «já perceberam que o sucesso do open source não se limita apenas às áreas da Web – onde demonstrou um sucesso incrível (relembre-se a título de exemplo o sucesso dos servidores Web e sistemas operativos baseados em open source, Apache e Linux) – mas também começa a dar passos sólidos na área das aplicações empresariais».

Outra das empresas contactadas para dar a sua opinião sobre esta matéria foi a darwin. Marco de Abreu, CEO da companhia, antes de iniciar a conversa, referiu que as soluções open source não possuem um peso muito significativo nos resultados da companhia, no entanto, reconhece que na darwin trabalham com soluções open source em áreas relacionadas com o e-learning, CRM e o content management. Aliás, é esta última oferta a que mais negócio proporciona à companhia. O CEO da darwin explica que este ano a empresa não sentiu um grande aumento da procura das soluções baseadas em open source, tendo os projectos adjudicados sido em igual grandeza relativamente ao ano passado. Marco Abreu refere que da solução de content management a darwin tem três clientes com sites que apresentam um número significativo de utilizadores, mas em termos de utilizadores de backoffice são cinco utilizadores.

Empresas com soluções open source crescem acima da média
Das empresas contactadas para realizar este artigo e que trabalham maioritariamente com soluções open source, o Semana falou com várias companhias mas acabou por obter só as respostas de duas empresas sedeadas no Porto, a Neoscopio e a IportalMais, e de outras três situadas na capital, a log, a MoreData e a Linkare TI.

Miguel Andrade, director-geral da Neoscopio refere que este ano a empresa sentiu um aumento da procura das suas soluções baseadas em open source. O director-geral salienta que «a Neoscopio é uma empresa recente e em forte crescimento, motivo pelo qual não se pode concluir dos números que o crescimento se deve a um aumento generalizado da procura de software open source». No entanto, Miguel Andrade confirma que «é notório o aumento de conhecimento sobre a existência de soluções de software open source por parte de novos clientes e, provavelmente, mais indicador é uma atitude muito positiva em relação a este tipo de soluções, que no passado eram encaradas com alguma apreensão por parte de alguns clientes».

O director-geral da Neoscopio confirma que fecharam mais projectos quer em número, quer em valor, do que no ano passado, e que as soluções empresariais mais procuradas são, na maioria dos casos, pedidos para soluções específicas para cada negócio. Fora desta situação, Miguel Andrade afirma que «a gestão de conteúdos é a solução genérica mais procurada». O NeoContent, solução de gestão de conteúdos, é o produto que possui o maior número de instalações. No entanto, esta solução é muitas vezes utilizada como framework de desenvolvimento, «o que confere a muitas instalações orientações para conteúdos muito específicos, para além da utilização mais imediata de construção de sítios/portais de Internet, gestão documental, gestão de sócios, e-commerce, gestão de trouble tickets, etc.», diz Miguel Andrade, explicando que as soluções oferecidas pela Neoscopio são meta-soluções, ou seja, a base de software depende das necessidades específicas do cliente. De acordo com este responsável, a Neoscopio escolhe consoante estas a solução base a implementar. «Cada instalação é portanto única, podendo uma mesma base dar origem a funcionalidades completamente distintas», explica Miguel Andrade acrescentando que no caso da solução NeoContent, todas as instalações até ao momento foram construídas sobre soluções open source de base: Drupal e Plone, com destaque para o Drupal.

Outra das empresas contactadas que trabalham com soluções open source é a iPortalMais, uma companhia com sede na Cidade Invicta e que conta com um produto com mais de 3000 instalações em Portugal. A iPortalMais tem uma média de 100 utilizadores por IPBrick, o que no entender de Raul Oliveira, director-geral, permite concluir que a empresa possui diariamente mais de 250 mil pessoas a usar os servidores IPBrick todos os dias em Portugal. «Não temos dúvidas, que a IPBrick deve ser hoje um dos sistemas open source mais utilizados em Portugal, com uma extensa rede de parceiros certificados, que a instalam, configuram e mantêm com o nosso suporte», diz o director-geral. Segundo ele, a iPortalMais partilha completamente a opinião da IDC e no caso das soluções open source comercializadas por esta empresa, Raul Oliveira entende que «os números de crescimento apresentados pela IDC são até um pouco modestos», e diz isto porque acredita que as suas soluções retiram imensos dos ónus imputados às soluções open source. O director-geral dá vários exemplos nesta matéria, explicando que a IPBrick é mais fácil de instalar do que as soluções proprietárias e que se trata de um produto que possui um nível de integração pouco comum nas soluções open source. Outro aspecto salientado por este responsável e dado como diferenciador é a rapidez com a qual a solução iPBrick faz a recuperação dos servidores.

Apesar do ano 2009 estar conotado com uma das maiores recessões instaladas em Portugal no primeiro semestre, a empresa de Raul Oliveira registou um crescimento nas vendas de soluções open source na ordem dos 20%. «Tivemos muito mais projectos do que no ano passado, apesar de neste caso serem maioritariamente projectos de menor dimensão», refere o interlocutor da iPortalMais, acrescentando que, com o desanuviar da crise, «este último trimestre anuncia-se como excelente com a chegada de vários projectos que só não começaram mais cedo por simples precaução na utilização dos orçamentos disponíveis».

Segundo Raul Oliveira, as soluções mais procuradas em 2009 foram como nos anos anteriores, soluções de correio electrónico e ferramentas colaborativas, seguidas pelas soluções de gestão documental. «As comunicações unificadas sobre IP também são bem procuradas, devido aos preços exorbitantes praticados pelas soluções proprietárias». No que diz respeito à solução open source que possui um maior peso na iPortalMais, Raul Oliveira destaca claramente a IPBrick, onde «as vendas de IPBrick são praticamente três vezes superiores às da gestão documental e workflow».

Administração Pública, telecomunicações e media
A última das empresas que responderam ao nosso inquérito foi a log. O partner da empresa, José Ruivo, refere que a receptividade que as soluções open source estão a ter no mercado não se deve só ao trabalho que tem estado a desenvolver ao longo de oito anos de actividade no mercado da consultoria e da integração de soluções open source, mas porque «há uma maior propensão, principalmente em 2008 e 2009, para tecnologias open source», razão pela qual este responsável afirma que tem sentido que «algumas portas se abriram». O partner da log refere ainda que muitos clientes são agnósticos na tecnologia utilizada, procurando as melhores soluções para as suas empresas, não descriminando tecnologias proprietárias nem tecnologias assentes em open source.

José Ruivo diz que 2008 foi o melhor ano da empresa e que 2009, que ainda está em curso, «dificilmente atingirá os mesmos valores de 2008». Apesar do posicionamento como consultora e integradora de tecnologia open source possa minimizar de alguma forma o impacto da actual crise, existe um conjunto de projectos que foram adiados.

Mesmo que a empresa não atinja o volume de negócios que alcançou em 2008, em termos de projectos fechados, José Ruivo diz que certamente ultrapassará o número de propostas em clientes e destaca que cada vez mais a log tem sido convidada para participar em projectos que se apresentam como alto desafio tecnológico.

A log tem trabalhado muito nas áreas de gestão de conteúdos (CMS) e Web utilizando vários produtos open source, tendo desenvolvido projectos em vários sectores de actividade dos quais destacam-se a Administração Pública, telecomunicações e media.

Dos projectos desenvolvidos José Ruivo enfatiza o trabalho realizado em matéria de engenharia de software, onde, em muitos casos, as soluções implementadas surgiram da capacidade de inovação que a log tem demonstrado no mercado. É o caso da solução Miglog (Migração e Modernização de Sistemas Legacy). Trata-se de uma framework desenvolvida em tecnologia open source, composta por uma metodologia, ferramentas e aplicações capazes de automatizar grande parte do processo de migração e modernização de sistemas legacy. A log tem vários anos de experiência em migrações de sistemas, o que se traduz numa base de conhecimento de regras de transformação muito vasto.

Outra das ofertas com grande procura na log é o resourcing. «Muitos clientes contactam com a empresa porque querem, ou porque já trabalham com tecnologia open source, e sabem que na log encontram o know-how necessário e muitas vezes o ADN compatível para levar os projectos ao sucesso», explica José Ruivo, concluindo que, cada vez mais, «o open source é uma realidade incontornável do mercado».

Aumenta a procura de soluções de gestão documental
Nos casos da MoreData e da Linkare TI, os dois directores das companhias corroboram que este ano notaram um aumento da procura das soluções open source.

No caso da MoreData, o seu director-geral, Fernando Fernandez, afirma que estas soluções constituem «um dos pilares da oferta de serviços da empresa». Segundo ele, a MoreData tem tido «um excelente crescimento nos últimos dois anos e a maior parte dos projectos realizados inclui open source de uma forma ou de outra». O director-geral da MoreData acrescenta ainda que os projectos em que o factor open source é o principal motivador «também têm vindo a crescer, na mesma proporção».

Na empresa dirigida por Fernando Fernandez, as soluções mais procuradas são as relacionadas com a infra-estrutura – como servidores Linux, bases de dados, webservers, e-mail, VoIP –, e soluções de gestão documental (baseadas em Alfresco). «A gestão documental, em particular, tem vindo a despertar um enorme interesse» diz Fernando Fernandez. Para ele, o factor open source pesa menos nas decisões dos clientes uma vez que no seu entender os clientes querem «uma solução que funcione bem, de forma económica, e que tenha a garantia de um apoio técnico continuado». Fernando Fernandez, salienta que a solução open source que possui um maior peso na empresa é sem dúvida «a gestão documental baseada em Alfresco». Neste caso específico, a MoreData é responsável por mais de uma dezena de instalações em produção, com algumas centenas de utilizadores.

Por último, Paulo Ribeiro, CEO da Linkare TI, confirma também que a procura deste género de soluções está a crescer e salienta que no caso da sua empresa, a maior parte do negócio está concentrado no sector público.

O CEO considera que tem vindo a registar-se «uma crescente penetração de diversas soluções e produtos open source nas mais variadas áreas, demonstrando a viabilidade do negócio baseado em soluções open source e aumentando a confiança dos clientes».

No caso da Linkare TI, a solução que possui mais utilizadores é o sistema FénixEDU, portal JBoss Portal e OpenLDAP. No caso do sistema FénixEDU, ele está presente em oito estabelecimentos de ensino superior é utilizado por muitos milhares de alunos, docentes e funcionários.